O documento discute o futuro das polícias e como elas devem ter um olhar clínico para além das aparências, observando as condições e não julgando as pessoas. Também aborda como a sociedade se tornou mais individualista e como isso gera insegurança.
O futuro das polícias e os desafios da segurança pública
1. O futuro das polícias
Ronilson de Souza Luiz
O sono da razão produz monstros. (Goya)
Introdução
Cabe ao policial ter um olhar clínico não apenas para as
irregularidades como também para as falsas aparências,
distanciando-se da visão equivocada de que quanto mais pobre
maior a periculosidade.
O olhar policial deve estar atento aos paradoxos das
megalópoles onde o médico está doente, o segurança se sente
inseguro e o juiz sabe que comete injustiças. Nestes cenários,
não são as pessoas que são desfavorecidas são suas condições.
Talvez um dos aprendizados mais ricos sugeridos pela obra de Michel Foucault seja
o de buscar, no trabalho acadêmico, na pesquisa, na prática de pensar, não
simplesmente assimilar idéias e coisas, mas buscar aquilo que nos permite separar-
nos de nós mesmos.
Prever, projetar e prevenir são os verbos que se apossam de nossas vidas
individualizadas como resultado da consciência que permanentemente lança pontes
para o amanhã e o depois-de-amanhã.
Assistimos em quase todas as camadas sociais o gosto pelas novidades, da
promoção fútil e do frívolo, o culto ao desenvolvimento pessoal e ao bem-estar,
caracterizando uma ideologia individualista hedonista. Como diz Bauman, nossas
relações tornam-se cada vez mais “flexíveis”, gerando níveis de insegurança sempre
maiores.
Conforme editorial do jornal O Estado de S. Paulo, somos, em São Paulo, a Unidade
Federativa que mais prende, condena e encarcera, no país. Nos últimos cinco anos,
nossa população carcerária dobrou, passando de 67,6 mil para 143,3 mil presos. Só